quinta-feira, 23 de julho de 2009

Uri Geller desmascarado

Uri Geller

2009-04-22 14:48

Entortando colheres ou chaves, parando relógios ou elevadores, adivinhando com precisão pensamentos complexos, números e desenhos, há mais de 30 anos Uri Geller mantém a fama de maior paranormal do planeta, sem medo das polêmicas e dos testes em laboratório.

Apesar de já ter se submetido a dezenas de testes no mundo inteiro e passado pelo crivo de cientistas cujas capacidades profissionais estão acima de qualquer suspeita, muitos ainda vêem o israelense Uri Geller como um mágico extremamente habilidoso. E, nos casos mais extremos, como um grande charlatão.
Talvez isso se deva à sua personalidade marcante, ou ao fato de ele ter obtido muito dinheiro com suas capacidades paranormais. A verdade é que Geller jamais escondeu que gosta de se apresentar em público e exibir suas habilidades mentais. E de ganhar dinheiro com isso. Os autodenominados 'desmascaradores de charlatões', sempre de plantão, vivem imaginando de que modo ele poderia estar entortando colheres e chaves — sua especialidade nas apresentações de auditório — mas jamais conseguiram explicar como o paranormal é consegue fazer o que faz diante de cientistas especializados sem ser desmascarado.
Talvez Uri Geller não seja o maior paranormal que já existiu, como algumas pessoas dizem, uma vez que existiram médiuns de efeitos físicos que beiram o inacreditável. Mas ele certamente se tornou o mais popular e mundialmente conhecido. O israelense sabe utilizar a mídia como ninguém e sua experiência de palco, nos quais atua desde a adolescência, lhe dá a aparência de um David Copperfield alucinado, quase sempre à beira de perder o controle, mas surpreendendo a platéia no final de seus números.

Luz do Céu
O início dos fenômenos na vida de Uri Geller se deu aos três anos de idade, e foi um acontecimento fantástico. Em um dia de 1949, quando morava com a mãe em Tel Aviv, ele viu um objeto imenso e luminoso descendo do céu em sua direção — algumas versões da história dizem que um homem surgiu à sua frente e disparou um raio de luz em sua cabeça, que o fez adormecer. Seja como for, depois disso os fenômenos começaram a se manifestar. No início, eram apenas jogos de adivinhação que ele fazia com a mãe sem errar nenhum. Algum tempo depois, a partir de 1953, o rapaz começou a chamar atenção na escola ao conseguir movimentar ponteiros de relógios usando a força da mente. Quando esse 'truque' se tornou motivo de zombaria por parte dos colegas, Uri deixou de realizá-lo em público, mas continuou exercitando seus poderes em segredo.
Geller serviu o exército e foi ferido na Guerra dos Seis Dias contra o Egito, em 1967, recuperando-se em um centro de reabilitação, onde conheceu a jovem Hannah e seu irmão Shipi. E foi Shipi que, em 1969, deu início às apresentações do paranormal ao pedir que ele se apresentasse em sua escola para mostrar às crianças o que era capaz de fazer com os relógios. Um professor pagou-lhe 15 libras pela apresentação e Uri Geller realizou adivinhações que maravilharam a todos. Shipi fez uma espécie de propaganda boca-a-boca e logo o jovem-prodígio estava ganhando para se apresentar em festas particulares, além de trabalhar como modelo fotográfico. Três anos depois, em 1970, um agente teatral procurou-o e começou a agenciar sua carreira, transformando-o num verdadeiro profissional do palco.

Extraterrestres e Polêmica
Uri Geller rapidamente virou uma celebridade em Israel, participando de apresentações em teatros, discotecas e universidades. Ao final de 1971 seu prestígio era tamanho que até a primeiro-ministro Golda Meir citou-o durante um programa de rádio, quando perguntaram o que ela previa para o futuro de Israel: “Não perguntem a mim, perguntem a Uri Geller”.
Mas o ano de 1971 marcou uma das fases mais estranhas de sua vida. Nesse período ele se tornou conhecido em todo o planeta e associou-se ao polêmico cientista Andrijah Puharich. Puharich já havia mantido uma suposta ligação com seres extraterrestres e, ao conhecer Geller, sugeriu hipnotizar-lhe para que o paranormal descobrisse mais a respeito de si mesmo e de sua 'alma'. E foi durante essa sessão de hipnose que Uri teria revelado a Puharich o encontro imediato de primeiro grau que teve em sua infância, além de outros mais, na época que vivia em Chipre, quando se sentava numa caverna e recebia instruções de seres desconhecidos — mais tarde identificados como os mesmos E.T.s com que Puharich teria mantido contato em 1952, que chamavam a si mesmos de Os Nove. Segundo o livro de Puharich, Uri Geller – Um Fenômeno da Parapsicologia, a partir desse momento sucedeu-se uma série inacreditável de fenômenos. As 'conversas' com os aliens eram gravadas em fitas cassete que imediatamente desapareciam; objetos eram desmaterializados e surgiam em outros locais; Geller, Puharich e seus amigos tiveram inúmeras visões de OVNIs; as mensagens chegavam com uma freqüência assombrosa, muitas vezes falando sobre o futuro da humanidade, e outras, sobre uma possível chegada em massa desses extraterrestres ao nosso planeta.
Puharich, juntamente com o Capitão Edgar Mitchell, astronauta da missão Apollo 14, levou Geller aos EUA e abriu para ele as portas de várias universidades e institutos de pesquisa. Porém, em 1973 o paranormal rompeu sua ligação com o pesquisador e pouco se sabe sobre as mensagens extraterrestres a partir de então.

No Laboratório

Alguns céticos e certas pessoas mal intencionadas insistem em afirmar que Uri Geller já foi desmascarado como charlatão, o que não é verdade. O auge dessas denúncias ocorreu em 1973, quando a poderosa revista Time e a New Scientist escreveram artigos ridicularizando as experiências realizadas pelos físicos Russell Targ e Harold Puthoff, do Stanford Research Institute, EUA. Não apenas o Stanford Institute mas inúmeros cientistas protestaram contra as matérias que consideraram tendenciosas demais.
O próprio Geller reclamou que os cientistas não haviam mencionado possíveis desmaterializações que teriam ocorrido em várias oportunidades, mas a verdade é que seus contatos e experiências com cientistas sempre comprovaram a veracidade dos fenômenos que é capaz de produzir. Geller também realizou experiências na University of London, das quais participou o professor David Bohm — que trabalhou com Albert Einstein e tornou-se um dos maiores teóricos da mecânica quântica —, além do escritor Arthur C. Clarke e Arthur Koestler. Lá, o paranormal conseguiu influenciar a marcação de um contador Geiger e deformar um cristal. Uri Geller também teve contato com físicos da Columbia University, do Lawrence Livermore National Laboratory, com o famoso Werner von Braun e, em 1998, com o prêmio Nobel de Física, Brian Josephson, além de participar de experiências na Kent State University, University of Los Angeles, Max Planck Institute for Plasma Physics, Tokai University e muitas outras instituições.
Em 1984, na Tokai University, em Tóquio, ele conseguiu apagar informações de uma fita de computador, experiência que voltou a repetir em 1985, 1986 e 1987, na Suíça, Inglaterra e Alemanha. Em 1991, seu nome ganhou as manchetes mais uma vez ao conseguir parar o Big Ben, na Inglaterra — feito que repetiu em 1994 e 1997.

Celebridade
Uri Geller é, hoje, o paranormal mais conhecido da história. Encontrou-se com algumas das maiores personalidades e políticos do planeta, teve sua vida transformada no filme Mindbender, em 1995, entrou para o mundo da música gravando um álbum com o concertista Byron Janis, em 1975, e em 1994, um CD com Justin Hayward, da banda inglesa Moody Blues. Apareceu nos maiores programas de entrevistas do mundo, trabalhou como consultor para empresas multinacionais, escreveu livros, deu palestras em universidades, foi entrevistado pelos mais conhecidos jornais e revistas e ainda mantém colunas semanais em vários veículos de diversos países. É sem dúvida uma celebridade.
Poucos anos atrás ele esteve no Brasil, onde se apresentou no Jô Soares Onze e Meia, deixando a platéia boquiaberta quando pediu que todos segurassem suas chaves nas mãos e se concentrassem. Como acontece há anos, dezenas de chaves foram entortadas e, pelo que se soube posteriormente, o fenômeno repetiu-se com milhares de pessoas que assistiam o programa em suas casas.
Nessa oportunidade, ele também deixou bem claro que uma de suas maiores preocupações na atualidade é a paz mundial. O paranormal vem batalhando por esse objetivo não apenas encontrando-se com líderes das maiores nações do planeta, mas pedindo às pessoas, onde quer que se apresente, que elaborem pensamentos positivos para o planeta se tornar aquilo que todos nós esperamos.
Com ou sem a presença de extraterrestres, não há como negar as capacidades psíquicas de Uni Geller, e nem sua intenção de trazer para o planeta um pouco mais de compreensão sobre nossas reais capacidades mentais.

[Box]
Puharich e Os Nove
Andrijah Puharich nasceu em 1918 e formou-se médico em 1947 pela Northwestern University, tendo pesquisado as áreas de neurofisiologia e eletrônica médica. Ele se tornou bastante conhecido por suas invenções na área de técnicas de estímulo da audição, o que lhe rendeu inúmeras patentes de aparelhos para surdez.
Interessando pelos fenômenos parapsicológicos, em 1948 ele criou a Fundação Távola Redonda, onde realizou experiências para desenvolver a percepção extra-sensorial em pessoas sensitivas utilizando sistemas eletrônicos. Hoje em dia diz-se que a Fundação era testa-de-ferro de experiências do Pentágono para controle mental e que Puharich estaria trabalhando para a CIA na época em que conheceu Uri Geller.
A história do pesquisador começou a se complicar em 1952, quando ele levou para a Fundação o místico e sábio Dr. D.G. Vinod, de Poona, Índia, para fazer parte de uma experiência. Lá, Vinod entrou em transe e incorporou uma entidade que se identificou como os Nove Princípios e Forças, ou simplesmente Os Nove. Durante a canalização, os Nove afirmaram que Deus é ninguém mais do que nós todos juntos, que não existe outro Deus além daquilo que nós somos juntos. Essa entrada do cientista para o mundo místico teve um impacto bastante negativo em sua reputação de homem sério, e seu trabalho passou a ser denegrido com uma rapidez assustadora — a ponto de alguns chegarem a afirmar que, nos anos 50, Puharich havia participado de um projeto militar denominado MKULTRA. O objetivo seria experimentar inúmeras técnicas para mudar ou induzir processos mentais, o que incluía criar numa pessoa a impressão de estar ouvindo vozes em sua cabeça. As técnicas empregavam drogas, hipnose e sinais de rádio enviados diretamente para o cérebro.
O Lab Nine acabou em 1978, após uma série de eventos misteriosos que culminaram com um incêndio criminoso na propriedade, em Ossining. Puharich foi para o México dizendo estar sendo perseguido pela CIA, retornou aos EUA dois anos depois e, ao que se sabe, não teve mais participação na história mística dos Nove. Ele morreu em 1995, quando caiu das escadas em sua casa, na Carolina do Sul.

No livro «O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias», o Jorge fala-nos de James Randi, um activista céptico que ajudou a fundar movimentos como o Committee for Skeptical Inquiry (CSI), e está à frente da JREF, James Randi Educational Foundation. A JREF é uma fundação dedicada a «combater a desinformação, a pseudociência e a fraude», que tem em aberto o «Desafio de um milhão de dólares». Qualquer um que acredite ter poderes «sobrenaturais», «mediúnicos» e afins só tem de se inscrever para o desafio: pode ficar com o dinheiro ou doá-lo à instituição de caridade favorita (para não alegar desapego a bens materiais como desculpa para não se submeter ao desafio). A JREF não participa nos testes, apenas os desenha com a concordância dos candidatos. A única coisa que Randi e a sua instituição pedem é a possibilidade de usar livremente os registos das experiências realizadas. Até hoje ninguém passou os testes preliminares...

James Randi já desmascarou o suposto telecinético James Hydrick, pretensos praticantes de cirurgia psíquica e expôs a verdadeira face da suposta detective paranormal Sylvia Browne (vídeo aqui). Mas o feito mais importante, para mim pelo menos, é a desmontagem dos poderes «mentais» de Uri Geller.

Uri Geller foi um fenómeno nos media há cerca de 20 anos. Durante muitos anos, os seus «poderes paranormais», nomeadamente o fenómeno que o tornou famoso, dobrar colheres, mas também os seus «poderes» de telepatia e detecção «mística» de minerais preciosos tornaram-no presença constante no pequeno écran um pouco por todo o mundo. O seu «poder» mental inspirou ainda dezenas de livros e inúmeros artigos - mesmo em respeitáveis jornais e revistas de circulação internacional, tais como o Times, The New York Times ou o Los Angeles Times - e permitiu-lhe ganhar milhões e milhões de dólares em exibições públicas, inclusive em programas de TV assistidos por milhões.

Uri Geller continuaria a vender os seus pretensos poderes paranormais, não fora James Randi, que demonstrou a facilidade com que este charlatão sem escrúpulos ludibriou até cientistas. Uri Geller ainda tentou processar os cépticos que desmascararam em livro as suas fraudes, mas perdeu todas as acções. Continua enganando os mais incautos fora da ribalta dos media, numa página da internet onde vende bugigangas psíquicas e livros «místicos» como «Life Signs» - recomendado por outro charlatão já aqui abordado, Deepak Chopra -, ou «Mind Medicine».

Uri Geller voltou a ser notícia há pouco mais de um mês, agora porque exige que sejam retirados do You Tube os vídeos que desmascaram as suas fraudes. Enquanto os vídeos não forem (se forem) retirados podem apreciar o fantástico Randi em acção.


Nenhum comentário:

Postar um comentário